Lagamar em chamas...
E eu no meio de um fogo cruzado!
Vivenciando a dor de um povo que grita calado por socorro, um socorro que clama misericórdia e que livre- os de todo o mal, amém!
Tiroteio, drogas, assalto, prostituição, menina- moça, moleques batendo um raxa, mães lavam roupas nas calçadas, o pai tá no buteco da esquina, a escola lá ali...
- Xii... faz tempo que não vou!
Vejo isso acontecendo, passando pela minha vida rasgando todos os sonhos de princesa, sentindo o gosto da lagrima quente das crianças inocentes sofrida pela uma dura realidade de miséria, misturado com um cheiro de revolta por esta ali sabendo que o mundo é belo, ao som de Genival Santos:
"Meu coração está de greve, não quer saber mais de amar, já sofreu tantos desenganos, e clamou, vai se afastar... "
Crianças correm na rua, sinto sua energia quando gritam: - Lá vem a professora!
Pausa da correria para o abraço, seus corações pulsão agitados em torno de uma felicidade momentânea, até o carro dos "
homis" passar, corre que faz medo, eles tem cara de mal, mas passou e a gritaria continua, olha a galera do rapper passando... - Falow mano! - Beleza meu chapa, vai um ai? - Hoje não fica pra próxima!
Olhares de tristonhos que dizem tenho fome, sensação de culpa vem travar minha garganta, impedindo- me de relaxar, fazendo com que a voz saia espremida, mesmo tendo que gritar pedindo atenção.
Minha mente faz um giro, olhando as redores, pessoas pescando em um canal fedorento, mato na calçada, lixo nos bueiros, crianças na rua, barracos, casebres, opa! Olha um duplex ali.... Bonitão, heim? - É dos donos da favela, Tia! -Quero ter um assim!
Droga pensei alto, pra que reparei nisso, agora dei enfase ao que não devia!
- Corre, corre, Tia! - É tiro!
Veio forte como um furacão, era as crianças querendo entrar desesperadas, nem deu tempo de saber se entrou todo mundo, tudo passa tão depressa, portas se fecham rápido, gritos, choro, desespero e agora?
Tudo passou, Lagamar volta as boas, viva os traficantes, botou ordem na favela...
"- Agora os muleques do outro lado não botam queixo aqui mais não!"
Mas a guerra continua, um dia desses, mesmo sendo assim, tudo misturado, ainda tem mais, só vai acalmar quando um morrer, hoje não morreu ninguém!
Minha mente está parada, sem saber o quê dizer, não sei quero voltar lá, não sei quero viver mais isso, mas têm as crianças, não posso dar as costas, amanhã é outro dia, ainda quero vê sorriso inocente.